14 de jul. de 2011

Canhoneio Perpendicular


duradouros desesperos
e aflições abundantes

que luz se apaga?
que farsa se descobre?
que som me toca os ouvidos?
que adeus eu não quero?

fale!
cale!
transborde!

mesmo assim eu sou bruto!
mesmo assim eu sou bruto!
mesmo assim eu sou bruto!
mesmo assim eu sou bruto!
mesmo assim eu sou bruto!

mesmo assim!


o sorriso sobre você
e o beijo nos cabelos
do que me verga as costas
o tiro de misericórdia dos doentes gnósticos
em sua ceia de glutonaria de cérebros de infelizes de vida curta
e meu casto ardor vertebral das canções sem melodia
você vai caindo, oh terrível santa do golfo de minha alma
abraçada aos pães que os porcos e seus vermes regurgitaram sobre meu travesseiro
goro – me de primeiras vontades e a distante lonjura de nossas teias
e o amarelo do sol de infernais primaveras
quando meu pai me suscitava ver a lua majestosa em seu espesso e longo manto azul quase negro
eu nunca aventei ao meu pai ver a lua majestosa em seu espesso e longo manto azul quase negro

lua!
lua!
lua!
lua!
lua!
lua!
lua!

mil vezes pequei contra sua beleza, que diversas vezes minguaste de vergonha e tristeza por conta das peraltagens e dos devaneios que encobriam meu dorso
mas agora imploro sua piedade
a voltar o teu brilho roubado
para esse roubado de favas contadas que jamais irá morrer
e não crendo em impiedosos mármores que adornam as mesas dos salões da vulgaridade estrábica rasgando os dias e sete dias numa fúria de lâmina afiada saltando pelos telhados sujos de casas que dormem cedo e suas luzes acesas de medo de outra injeção de pavor e dúvida, pelos anos passados que virão ser passado a cada dia se tornando um novo velho novo futuro
e essa parte de mim que precisa voltar de volta ao teu consolo de abraço preguiçoso tão forte como o aço que reveste os mantras dos aterrorizados pagãos nas noites do terror ímpio e suas mulatas bebidas fétidas apresilhadas em copos de vidro num balcão de odor e vulgaridade misturados e longas bocas da noite de cocaína invisível na urbe infeliz

o meu quarto vem me matando!
o meu quarto me aprisiona desta vida!
meu quarto está encolhendo um dia a cada instante!

e não é outra parte de mim
sou eu todo
que sinto o frio se chocar à porta
e lá fora monstros vorazes queimam e fazem barulhos
e todos sabem que eles estão lá

eu fico pequeno
já não caibo em mim.

salto muros
e roubo ônibus
e taxis com suas histórias repetidas
e uma promessa que já não sou capaz de cumprir
agonizo pelo meu querer

AYAHUASCA!
AYAHUASCA!
AYAHUASCA!

eu grito
grito...

AYAHUASCA!
AYAHUASCA!
AYAHUASCA!

não existem facas
capazes de cortar pescoços
não existe minha saudade
não existe o que não quero

só alma

AYAHUASCA!
AYAHUASCA!
AYAHUASCA!

oh, você minha pobreza
você minha pobreza, que é minha vida, minha sorte, meu sol

você minha vida
heterogenia vida minha
amarrada em minha alma
mas são diferentes

oh, minha vida!
eu te tomo na chama azulada dos céus acima dos navios
e delírios reais de certezas
eu vim do amor
eu vim de meu pai
eu vim de minha mãe
e sou meu pai e minha mãe, e a Lua majestosa em seu espesso e longo manto azul quase negro, a me proteger e abrandar meu coração das tentações que as distâncias infiéis me apresentam

eu tenho alma
eu tenho alma
eu tenho alma

eu sou alma
eu sou alma
eu sou alma

você minha alma, não é dolo
você minha alma, não é tristeza
você minha alma, não é tragédia
você minha alma, não é sombra


você minha alma, não é solidão!

você é minha, alma minha!





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