5 de jan. de 2012

Terapia de "um" preconceito


Dedicado a todos aqueles que acham que poesia é coisa de "viado".


(...)
de ser rato
sob o chão podre
de poeira
de restos
imundícies
nada a esperar dos ladrilhos
não encontro – me
desde que as telhas sumiram
e as paredes dão medo
mas eu não desisto
e olho pelo vão das janelas
para o escuro
e olho para trás quando tenho medo
do escuro
para ter certeza de que estou sendo assombrando
mas aperto o passo
arrepio
e olho para baixo
como se do chão não viessem os males
já larguei minhas cervejas congelando na geladeira
por uma única preguiça de ficar bêbado
tenho telefone
mas ele não toca
ligo para o “hora certa”
pois meu telefone se sente solitário
assim como os livros
que leio sem vontade
para que suas páginas possam respirar meu ar puro
no final da rua sempre tropeço na mesma pedra há quase 5 anos
hoje não sinto mais tanta dor como sentia antes
numas revistas no consultório dos loucos
falam da salvação do mundo
na tv o mundo foi salvo
nos bares o mundo não tem salvação
eu vi prostitutas com seu liberalismo e censura
todas infelizes contando seu dinheiro
e a fúria e os cigarros do “Paraguai” nos dedos
das cafetinas feias e velhas
paquerando os célebres que bebem no balcão
imoralidade controlado por alvarás da vigilância sanitária
“afinal puta também tem direito”
nada mais justo
eu só queria um café
talvez uma fatia de bolo
“a fome faz coisa, gente!” Já dizia Seu Ari
mas ainda é maio,
falta muito para as campanhas de natal
mês que vêm vem o inverno
não quero ouvir sobre as verdades
poesia também aprisionou
- viados foram mortos, também
ambos deitados
cada um num tempo e lugar,
sob o chão molhado de urina
e pegadas de solas de sapatos
não tão caros assim
o sol não consegue entrar
a casa não é arejada
e nem sabem do que precisam
os loucos,
jornais,
catapultas imersas na putaria da noite
levitando as ínfimas miríades das garrafas de cerveja
os gritos de dor e dor
mas a ponte é mesmo bela
eu que chato não gosto do sorriso com seus dentes amarelos da garota que me sorri
“ela nunca ganhou nem perdeu” – sinceramente?
e vômito em minhas botas
“quem nunca esteve dentro dela?” – por alusão?
Estava envolta das mais lindas poesias e dos cantos ingênuos sob harpas falsas douradas
quando andava o mundo ficava cego,
morrer...
morrer...
amar...
morrer...
- quando se deve chorar?
“existem anjos deitados, dormindo nas nuvens” – quando se deve olhar pra cima?
- não chore quando vencer! Não há dor nas vitórias!
entender
entender...
e o anjo sob sua mesa?
- ganhei de minha esposa!
os sinais ali no céu, pelas frestas da persiana
juro que vi um deus de águas no céu
- é firme? Consistente?
você fechou a persiana!
poesia meus amigos
- poesia?
veados?
viados?
- quem escrevera isso?
- quem lera isso?
certamente viados
“veados são bichos silvestres, das matas. Não escrevem nem lêem!
poesia caríssimos
poesia
- quem se importa?
- quem lê? viados?
- as prostitutas citadas neste?
quem tem medo de poesia, se viados a figuram nos livros e num chumaços de papéis e bucetas.
- bucetas? não eram viados?
- ou seriam “os melhores” que os demais, que talvez não sejam viados, mas não põem suas dores num papel.
quando guardada, falta vontade para conhecer
a poesia
viados poetas
poetas viados
a depender da forma como vista.
- afirmas que todos diferentes, são diferentes em atestado?
existem muitas lutas, nenhuma pela poesia
algumas pelos viados. muitas!
quando “lê” te preocupas com viados, prostitutas, santos, demônios, ou anjos mortos que despencam do telhado todas as noites, exceto quando chove, à noite. te preocupas?
“poesia” mas poderíamos chama – la de resistência
o mundo é cheio de mazelas
a poesia é o pára-quedas,
sabe – se que se abre
só não sabe – se onde cai!
preconceitos são justos
quem gosta do poeta?
quem gosta do viado?
“a poesia ode matar” – disso nunca duvide!
é justo chamar o poeta de viado
injusto é chamar um viado de poeta
ele pode ser ofender, poucos são aqueles que gostam de se sujar, ou de nadar num rio poluído
ou de cair de pé na vida ao redor
ser poeta pode ofender mais que ser viado
infeliz do poeta que se sentir poeta
e do viado que aceitar ser viado.

0 Acenderam os faróis :