[...] E quantas solidões existem
para fazer – me companhia,
desde que as
chaves da cidade me foram entregues
aqui nesse
apartamento aparentemente não aparento ser mais eu
tão longe
tão perdido
tão enfadado
tão amolado
tão insípido...
Desconfio que minha cara
nesse espelho não seja mais minha
pareço triste
e
estou
triste
as lágrimas secaram
Tão grande e esse vazio aqui
dentro
por onde anda
a mesma felicidade que eu joguei fora e hoje ri numa foto
parada me olhando
debochada
Algumas sirenes e seus
vultos em cores
povoando o
horizonte que enxergo pela janela
molhada
da
chuva
que
choveu
ontem
a tarde
Entenda o significado
dos passos que
se aproximam ruidosos de sua porta
pode ser que
eu perca meu amor próprio,
quero afinal
te ouvir
dizer
que
já
me
odeia
odiou
e
odiará
desde que te abri a porta do
carro naquele março quente
cheirando a
pólvora e esgoto naquela avenida que já não sei o nome
mas me lembro
do muro pichado “O AMOR É IMPORTANTE, PORRA!”
você acha
lindo
e sempre me
lembrava disso,
tu teve
maiores prioridades
Eu dou um passo
respiro
penso melhor
mas você não
consegue entender
não lê as
letras miúdas
no rodapé dessa
quinta – feira fúnebre
Os leões fugiram das jaulas
constelações
de vagalumes pavimentam a grama do jardim
centenas de
desesperados traiçoeiros nadando na fonte cheio de limo e lodo ao lado do
baralho amarelo dos velhos sentados no banco,
aviões caindo
num oceano qualquer
mineiros
chilenos radicados no centro da terra
policial errou
o tiro e tirou o amor de dentro da casa
ônibus sem
freio que resolveu voar
prostituta
morta na BR 101
meu chá preto
gelado esquentando no vão da janela
garoto
brincando na areia
os guardas
tomando cachaça
tempero entrando
nas narinas
sangue de
pernilongo na parede
mulheres
queimando os cabelos no salão
caça inimigo sem
combustível pousando Filipinas
jegue comendo
a roupa
banana comendo
o macaco
o mar fazendo
tour pelo Japão
Angra dos Reis
soterrada
semáforo desligado
livro de
filosofia no bidê no banheiro
Pequeno Príncipe
Alice no
Subterrâneo
Tubarão com
faca nas costas
Acenda os
Faróis
A cor da
espelho
Sob a Janela
Fusca amarelo
abandonado na frente do quartel
Por
essa e por tantas outras
hoje não faz
mais frio
o dia teima em
não amanhecer
alguém disse
que a noite é uma criança
a noite é uma
enxaqueca
e tem muita
luz sob teus olhos
só existe
sexo,
quando o que
você precisa, meu amor, é de amor
E você ama
mas te custa
admitir
ou
deixar certos
hábitos
a vida cobra
bastante caro
a cada escolha
uma renúncia
escolhendo o
momento
renunciamos
toda a vida
“Estrelas! Estrelas como em todas as outras noites!”
meu
travesseiro me causa torcicolo
mas todos os
dias me debruço sobre ele [...]
0 Acenderam os faróis :
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