25 de set. de 2011

De um espírito


Pois a noite caia densa e escura

o vento lá de fora

com sua camisa amassada

gritava em timbres agudos

seu oráculo de mentira

para dias que não se findam

e eu que não tenho mais razão

ouço calado, enquanto tremo,

ao lado do sofá com seus abajures dormentes

iluminando sem que exista um motivo

e correndo depressa,

a agonia pula outro muro

noutro quintal apavora

as árvores e os varais

até chegar à porta da cozinha

se servindo de café quente

rindo e cambaleando de cinismo

montada em cem mil cavalos

descendo ladeira a baixo

na escuridão de seus banheiros

com 100 mil rostos refletidos

na pintura mofada em azul e vermelho

o gotejar da torneira enferrujada

irritava o monstro sujo

que falava da imensidão dos sonhos

e desejava alguns dias,

alguns dias para as tardes de domingo

para que os fins de tarde terminassem

numa esplêndido clarão

recebendo o vento sinuoso dos finais dos dias

só para reclamar do frio ardil

sob os ladrilhos imundos aos quais se debruçava

e dormia feito criança,

ao acordar culpava a vida,

“essa vida corrupta e, tão justa com seus mortos”

e você não é esse suicídio que sua alma comete

todos dias ao meio dia

e pois existe um desespero em minha alma

que liberta meu espírito

enquanto me aprisiono nesse moinho

de todos os dias, inclusive nas tardes de um domingo chuvoso

esse não é um devaneio qualquer

é só meu luto, que guardo em todos os dias que ainda hão de vir!

0 Acenderam os faróis :