Pois a noite caia densa e escura
o vento lá de fora
com sua camisa amassada
gritava em timbres agudos
seu oráculo de mentira
para dias que não se findam
e eu que não tenho mais razão
ouço calado, enquanto tremo,
ao lado do sofá com seus abajures dormentes
iluminando sem que exista um motivo
e correndo depressa,
a agonia pula outro muro
noutro quintal apavora
as árvores e os varais
até chegar à porta da cozinha
se servindo de café quente
rindo e cambaleando de cinismo
montada em cem mil cavalos
descendo ladeira a baixo
na escuridão de seus banheiros
com 100 mil rostos refletidos
na pintura mofada em azul e vermelho
o gotejar da torneira enferrujada
irritava o monstro sujo
que falava da imensidão dos sonhos
e desejava alguns dias,
alguns dias para as tardes de domingo
para que os fins de tarde terminassem
numa esplêndido clarão
recebendo o vento sinuoso dos finais dos dias
só para reclamar do frio ardil
sob os ladrilhos imundos aos quais se debruçava
e dormia feito criança,
ao acordar culpava a vida,
“essa vida corrupta e, tão justa com seus mortos”
e você não é esse suicídio que sua alma comete
todos dias ao meio dia
e pois existe um desespero em minha alma
que liberta meu espírito
enquanto me aprisiono nesse moinho
de todos os dias, inclusive nas tardes de um domingo chuvoso
esse não é um devaneio qualquer
é só meu luto, que guardo em todos os dias que ainda hão de vir!
0 Acenderam os faróis :
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