29 de jul. de 2012

Uma carta para Julia

como de costume
o amor se olhava no espelho
desejando o mais perfeito instante
onde mentiras são quase verdades
quando saia na rua
percebia os mitos decrescentes
da fome que atravessava cruzamentos
e chutando esfomeados mendigos ricos
pelo puro prazer que a carne traz de volta
nas embalagens de chocolate ao leite
e o calor cidade de pedra
derretendo estômagos vítreos em praça pública
onde a ladra corre e como cinderela esquecendo seu sapatinho
retorna manca à casa das bruxas
o filme de terror em tempo real
agonizando na antiga fonte
onde crianças limpas pulam de paraquedas
no abismo doce das infâncias malignas dentro de casa
cinderelas e damas de vermelho...
... com sapatos apertados
e medíocres carruagens de abóboras
caindo sem parar no despenhadeiro, sete vezes sete vezes,
até que alguém expire
e um outro te acenda uma vela no dia de finados
o amor trouxe de volta nossos pecados
e pequenas bucetas raspadas
onde quase vejo meu rosto refletido
e o jornal da globo
e as últimas notícias
do dia de sexta-feira
iluminando o quarto frio
e escondendo a poeira
o amor trouxe de volta minha cisma
de não acreditar no talvez,
que renasce prontamente em cada conversa desconfiada sob o olhar cego da garrafa de cerveja e do copo pintado com teu batom
“fala baixo porra!” sempre gostei de ouvir isso!
principalmente nas tardes do profano tédio
que minhas mãos decifram
o amor me trouxe um xarope pra tosse
e na bula nenhuma informação
resolveu meu problema
nem o sabor de cereja
nem o seu gosto
preso em minha garganta
para sempre!
amor agora é alguma dessas nossas vidas
e eu preciso fazer a barba.
E o resto disso tudo
são cidades
que desejamos ainda
um dia visitar.
Soube que existe o amor
e milhões de desvios em mim!

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