18 de jun. de 2012

Visão Noturna

mas então quem nasceu?

quem nasceu?

quem nasceu?

quem nasceu?

nasci!

muito embora eu ainda tenha paciência

toda vez que atendo o celular

ou

desligo a televisão

ou ainda

,pacientemente,

troque as pilhas do controle remoto.

o sofá caminhou pela sala

o tapete empoeirado me sujou

dor no pescoço

copo de café

ventilador oscilando

“quem diz oscilando?” eu digo girando

me entupia o nariz

mas tenho preguiça

do outro lado da cidade, a cidade cheira álcool, preservativos, gravidez, tramas infinitas ao pé do ouvido, insônia, e um novo salvador parece surgir dos extremos da dúvida: “só queria que me amasse”, repetidamente sendo repetida por sob balcões imensos de madeira e tinta látex ou “latéx”? ou à luz da lua vendo a cerração andar na frente dos postes e sua luz laranja de sódio, novamente minhas narinas ficam roxas, geladas e entupidas mas, a vodca acabou, talvez seja hora de ir embora, ainda não! o tempo fermentou a noite e a noite não parece mais ser uma criança quando no fim do mês as correspondências deprimem e você não se lembra mais de mim.

hoje as pedras se partiram

quebradas

como as pernas,

os maxilares,

os pés,

o novo câncer,

o Acidente Vascular Cerebral,

o acidente terrível dos pesadelos,

o diabetes,

a depressão,

a gripe,

a vacina da gripe, (quem vacinaria a gripe? e por que?),

a dengue,

as tais viroses,

“neurocarmas”,

paralisias faciais,

o sofrimento nos olhos das mães com seus corações apertados pedindo a Deus força e seus filhos desonestos como se desonestidade fosse só o roubo,

e outras mães agora avós, com suas tripas feitas coração e as tragédias noticiadas no noticiário do fim da tarde e as barbáries pessoais da solidão de buscar amizade nos seus que estão sempre mais e mais longe de si mesmos, maldito mal agradecido mau que enxerga mas não vê.

Mas Deus! até quando haveremos de esperar sua santa piedade de pai de filho de amém do tudo? eu indago e me engano em respostas que não criei mas estão em mim. só esperava ver acontecendo para essa uma outra aquela mãe ter algum descanso enquanto seus dias não vencem e a terra será corpo novo de volta.

ao passo das manhãs que nascem e nos acordam, viver um dia mais é tal privilégio que começam a perceber e me perturba não saber se amanhã será mesmo um novo dia, com tantos dias igualmente comumente notadamente iguais e não ter mais a paz e o sossego dos dias de saúde plena enquanto as cavidades se desmancham e o corpo fica velho e desgraçadamente frágil e a casa aprisiona e há muito a viver ou sofrer, quem pode definir ou garantir?

o câncer hoje bate à sua porta,

o câncer manda flores,

o câncer ri de sua cara,

o câncer corrói sua força,

o câncer devora sua carne,

o câncer te transforma num lixo,

o câncer te mata antes da morte,

o câncer está aí,

o câncer te torna criança novamente,

o câncer te faz inútil,

o câncer te envelhece,

o câncer rasga seus dias como relógio adiantado,

o câncer atrasa os seus sonhos,

o câncer é só um querer!

o câncer está vivo,

o câncer vive!

o câncer tocou a campainha e correu,

o câncer chega sem avisar,

óbvio não é mesmo?

o câncer é tragédia,

tragédia humana cotidiana,

o câncer humilha,

o câncer chega com vantagem no jogo,

o câncer pode ser VENCIDO!

o câncer te faz se esquecer.

hoje a noite está linda meu amor” e a lua está olhando pra nós dois que estamos olhando para a lua, mas até quando? algum dia mais haverá uma lua pra nós? e nossa vida sacana parece nos trair toda vez que fazemos planos para vive – la mais intensamente, mas observo entre as árvores que os pássaros se escondem em suas folhas quando o sol vai embora, e quem não mais verá o sol, como deve se sentir, ao deitar – se imaginando que talvez o dia nunca acabe? malditas mazelas do viver humano, da alma tão pequena querendo ser grande e pobre de todos nós, infelizes sempre sentindo falta de alguma coisa, e reclamando das distâncias e sentindo saudade dos momentos que poderiam ter durado ainda mais, ou das noites de sexo com suas camas penduradas na parede e teias de aranha nas quinas das mesmas paredes que ostentam quadros de paisagens desconhecidas.

destrói todas paisagens também! saiba que não há quimioterapia que possa curar nossos cânceres fraternais.

0 Acenderam os faróis :