15 de abr. de 2011

A Poesia foi à praça

A Poesia subiu a rua
de pés descalços
balbuciando os ladrilhos de concreto
se escorando em meiofios
urinando em muros chapiscados
de escritas em azul desbotado
viu carnes hasteadas em estacas
cerveja quente boca a dentro
copos de cachaça
conversas misturadas
música ruim em alto volume
crianças correndo
mães apavoradas
o lixo fétido nas calçadas
mentiras aos ouvidos
carros agentes que desviavam
de pessoas dormentes
e o céu escuro embaçado
e grandes bestas longe de seus destinos
viu a tristeza fantasiada de graça
amores que não viverão
alegrias que findam logo
árvores mortas
famintos e fugitivos
estranhos encobertos de nojo
moedas que caiam dos olhos
saias andando apressadas
o frio que sobe à espinha
e antenas espiando telhados
cartazes sem cor tropeçando nas sarjetas
portas que batiam
lâmpadas enforcadas nos tetos
e a sede das plantas em jardins azulados
e promessas meio cumpridas
e mentiras caras
e abraços mentirosos
no paço municipal
e viu bancos quase vazios
os dias espantam os velhos
e atraindo porções de enganos
numa praça que já foi
e o escuro dos cantos arborizados
e a grama verde de nojo
em vômito que não cessa
e o cheiro triste da comida
atravessando janelas
e os cachorros inalando seu paladar.
Hoje a praça cansada
como em todos os dias
não conseguiu assustar
a Poesia, que sem orientação alguma
insistiu em continuar andando
esperando pelos segredos
que as ruas cínicas escondem
entre as tramas de vingança e felicidade
que se alocam em vultos andarilhos
que nus, se despem da mudez

e se enfrentam na neblina de noites de festa.


3 Acenderam os faróis :

Luciano Fraga disse...

Caro Mister, a poesia é uma entidade viva, ainda... Belo poema, abraço.

anjobaldio disse...

Muito bom teu blog. Grande abraço.

Carol disse...

Oi, fiquei super feliz com o teu comentário no meu blog, agradeço a passagem lá e aproveito para dizer que também gostei muito do seu. Sucesso! :)