20 de set. de 2010

Alguns Marços quando vidas

É só mais um dia
um qualquer dia de um março qualquer, sob a mesa os cigarros e o café frio, uma penca de chaves, o odor fétido de uma eternidade passageira.

São as portas batendo ao final do corredor,
luzes que lembram um coração empolvoroso, só água que cai voluntariosamente de um cano incrustado de lodo.

Demorando no banho,
jubiloso, esperando que sua sujeira saísse de sua matéria pagã como a água descendo pelo ralo.

Ouvia estridentes misérias
separadas pela mesa e por uma caixa de fósforo, poças ensangüentadas de laconismo e filáucia, em tais olhos amarelados e um semblante inóspito de mazelas e disfásicos sonhos permeando um quarto escuro e um abajur alaranjado esbanjando calor.

Estradas marcadas
e sem transcender lugar algum, que na sabedoria se envergonhavam, almas perfuradas por profunda sonda, um limo escorrendo pelo brinco de brilho esmagado em uma orelha podre saltando entre odores térmicos e intrínsecos, uma catarse morta, onde as vistas enxergam e repudiam anormalidade instigada pelo peso aos ombros concedido.

Numa elipse conspurcada
á guisa de lamúrias e extinções mordazes, itinerantes e repentinas, um grito se ouvia mesmo não possuindo nenhuma espécie de som lembrada por lábios em pútrida carne viva, em sua salmoura que escorria cálida e asfixiante.

Limalhas rasantes
entre ondas de veludo tinto num maxilar em câimbras propositalmente secretando sua sensibilidade comedida aquém da moralidade desvirtuada em noites opalas como faziam os tristes indignos da pueril forma de mensurar a vida, com seus esmaltes gastos tocando misturas malignas de conforto e mal estar.

Quando lendas
de casas que curam, tendo a morte com atrito e escape, ruas que se calam, apenas estavam e assim ficaram, permanecidas em estáticas em felonias de comodato falho, pisadas entre galhos macios amolecidos pelo dispor de sua serva.

Cantarolando
lembretes marcados, insinuando milagres no dia seguinte, quando fracassada, num sofisma, empresta seu corpo desvalido em busca de algum valor ou companhia, que tocasse seu reto imundo com uma língua ainda mais imunda do batom imundo demasiado volumoso outrora visto num espelho qualquer que vigia toda imundície de corpos coletivos e corpos únicos, temendo que a noite se acabe, da solidão inacabável, ou conforto de lástimas que não passam, outra certeza incerta de dias que não serão contados, só os abutres aguardando glorificados à queda de miseras carnes marrons.

Aos que corriam pelas noites
de suor frio, desejando que os dias fossem ontem, vigiados pelos antagônicos que se assentam sob frestas rasas de buracos em paredes, para depois mensurar sua sanidade aos seus rebentos e injustificar a ida à Casa Santa, aos loucos novamente sobressalto a incomparável corrida noturna.

Enfurecidos em seus sentidos de amoníaco,
cuspe e sonos perdidos, um menino de mãos arranhadas para embasbacado à destra daquele ser que dorme próximo ao seu ente mumificado de papéis turvos, amarelados.

Se via um anjo em trajes abstratos,
balançando seu berço e com um “risinho” cretino entre orelhas, amaldiçoando toda claridade mundana, me tornando tão velho que às pernas me contorço em queda livre, desmentindo seu nome qualquer, o menino rasga – se numa per dança desnutrida enquanto chora a saudade enclausurada entre verbetes mal ditos em bendita redenção, á múmia exposta sob robusto concreto enciumado, creditando pontas de cigarro e chicletes insolentes na azia cotidiana do existir como quem desvia de seres que não se sabe se contornarão a próxima esquina, mas foram visto ainda agora, pessoas são luzes, certamente um dia apagadas, outras da escuridão fazem seu assento, como aqueles que apenas correm todas as noites, com seus cérebros adocicados de mentiras físicas e beijos nas costas.

Ásperos de contornos
e dobras malignas circulando no latifúndio do esqueleto árido almejando o sentir entre correntes fixadas.

Ou noites pálidas,
que não querem chorar por você, enquanto vive torturado por sonhos que se tornaram próximos em constante fluência cadenciando em espojo decrescente numa lápide de coroas murchas e sem cor.

Certificando – se
a saudade prematura e duradoura dos tempos idos onde a certeza era a alegria traspassando os punhos fátuos de uma senhora errante em anéis vítreos de falsa ardência, tão reais quanto os olhos que abocanham sua alma mostrando toda infelicidade complacente dos destroços de suas carapaças rijas e incrustadas dos pecados desferidos contra si próprio.

A plenitude vaga
de estrelas escondidas entre nuvens de tom neutro do furor sudoríparo de um dia em que a cidade se divide entre partes minúsculas que procuram alegrias cronometradas e sonos costumais, aversão, bucolismo escondido entre paredes e lençóis castos, ou sujos pelo nojo exalado antes do sono, repulsa de fidelidade despida cortada em tiras únicas com poeira e traças vivas escondidas em templos uniformes.

Traições imperfeitas
grifadas em postes apagados e tendas mínimas por ali se esconde tal domado afeto, onde o cheiro de ondas curtas adentram encéfalos atônitos e adormecidos transcendem a fuligem estampada na cor dos espelhos transgênicos, que borbulham a vaidade promíscua de relevância torpe, na certeza falha da dormência carnal.

Onde o lixo
é como sombra, e vontades matam fome.

E a fome
transcendendo a própria fome, quando mesmo são fomes separadas juntas numa mesma fome.


1 Acenderam os faróis :

BAR DO BARDO disse...

Texto pesado - chumbo de boa qualidade!

Parabéns, "sr. Metralha"!