Sermos, parecermos ou padecermos?

Eu hoje encerrei a cota de todas as mentiras que eu poderia contar!

Ao som de Flávio Venturini - Nascente.

Pensei na cerveja gelada e na risada dos amigos à mesa,não pude deixar de ouvir a mesma ladainha repetida a cada gole esperando que ela se contradiga e vá pro banco de trás.A sensação de ser um milhão dentro de um só.Mas eu não podia ir embora, pensei em todas as vezes que me olhei no espelho e achei minha cara com cara de outro cara, o cigarro aceso incomodava, eu me mantinha quieto, pensei e ri sozinho. E quando a canção parou de tocar, aqueles que se levantaram iriam embora com suas multiplas companhias, fanáticos machucados, a cerveja ficou quente, não perdoou o tempo que passei tentando entender as razões que levam as pessoas a serem mínimas quando querem fazer de dois corpos um só lugar. Os sofismas são bem tratados, bem ouvidos, muito bem entendidos. É vulnerável o instante em que o copo transborda, o instante do susto vem acompanho de um riso impreciso e banal, olhar para o poste com uma luz que clareia, cervado de vigias desorientados e de um véu que não é tão espesso assim. Como ir no banheiro e saber as medidas da bunda dela. Ouvir aquele piadinha acompanhada de um tapa e de um risinho maroto.

Por fim, pensei no dia seguinte, nos afazeres e nos outros momentos que podem vir a acontecer, na persuasão que eu não tenho, nos cigarros que ainda vou fumar, e nas mentiras que eu posso contar, ainda que não possa garantir veracidade e credibilidade a elas.

"a poesia é uma mentira que reside em cada unha suja e em cada pensamento libidinoso..."