28 de out. de 2013

Boa noite! [trecho]


[...]

Boa noite
de sábado
qualquer
dia
noite
qualquer.

Qualquer queda
do colo do avião
que cai no mar.

De cima da ponte estreita
o sentinela sisudo
já não presta mais atenção
na esquálida sombra das mortes
em Quang Tri.
Auschwitz sem morfina.
Uma sirene em Gaza.
Uma visita a Bagdá há 40 anos atrás.
Teerã renasceu
Cega dos aiatolás. [...]

[...] Diáfanos cristais
lendo horóscopos
enquanto o mantra geme
úmido;
quente;
fresco,
explodindo goela abaixo
com toda a
boa noite
e os demônios na TV
de madrugada.

Eu não consigo escrever
canções de amor
para rádios amedrontadas
nas cidades embaixo d’água.

Chovia enquanto eu suava
e lindas cortinas
dançavam
ao som de melodias surdas
do rádio;
bobo;
sujo;
incrédulo,
canalhas boquiabertos
praguejando contra mim
suas inadequações lógicas
pela secretária que disse “olá”,
pela viatura a mil por hora
fugindo dos bandidos
descendo a principal
a mil por hora
quase matando – me
quase matando – na.

Ainda pingam limão
em fatias de “mortandela” abafada
sob o balcão sujo
num prato branco de esmalte.
E quem gostaria de ser beijado
quase 4 da manhã
de domingo
no bar de Terezona?

0 Acenderam os faróis :