17 de jun. de 2011

Refluxo

não cessam os dias das navalhas acesas
urro medonho do girassol
a tarde toda azeda
e nas nuvens toda melancolia
ameaçando os trabalhadores de papel
com sacos de sal nas costas
e o grito da máquina verde
que sombreia os famintos na hora do almoço
tão seco e áspero espelho mentiroso
de açucares com a garganta cortada
abelhas encerando o mel da rainha
de ranho adocicado no bigode ralo
não me encarava e mentia
como se gostasse de enganar a si próprio
apertava minha mão e contava pétalas
nos olhos o chumbo cor de chumbo
brilhava como um brinquedo novo
ganhado em vésperas de aniversários crônicos
de cílios espessos cheirando a naftalina
que enoja baratas pálidas mortas
nenhum horror transfigurado comum
nas notas de uma canção mentirosa
sobre dias e cores e sonhos de morte
a janela fechada afasta o perigo
mas há quem acredita em contos
e quem duvida do que só parece verdade
e quente em todos os anseios de sua vontade
pedindo piedade para outro impiedoso
que fora dormir noutra cama
se embaraçar noutros braços
quanto azar fora ali depositado
no seio da garota de bronze
que se odeia toda vez que agoniza de vontade!

1 Acenderam os faróis :

Luciano Fraga disse...

Mister, "e quem duvida do que parece verdade", a "fala é gêmea da visão... é parcial quando mede a si mesma", grande poema amigo, abraço.