9 de abr. de 2010

Ode à infelicidade. “Tempo 3”

Acabei com minhas unhas num farto apuro de maldade que fingi não existir.

Abri a porta com receio, não tocam mais a campainha, apenas permitem que as presenças se façam sentidas.

E quem se importa, peço que me responda, caro amigo!
Não deixe que me passe por insano, por desequilibrado mental, falando sozinho e lamentando as dores que senti, sinto e antecipando as dores que sentirei.
Não troco minha meias, o frio quer corroer meus pés, as sandálias teimam em correr sozinhas, meus pelos eriçados sob uma luz que teimam em avermelhasse.

Não quero tomar – lhe o tempo. Preciso que desate meus dedos. Estou incapaz de tocar.
Bela morena de pernas sinuosas, fala branda, tão igual seu travesseiro o qual roubei de seu descanso, o mesmo que trocara pelo busto viril e generoso que me abrigou dos temores cretinos que tomavam o ser que não fui. Por vezes escutava a janela cantar, me enganar. Feito febre de alças curtas num arrepio e delírio.

Não quero falar do amor. Ele nunca fez nada por mim, não foi meu amigo.
Somente um ou outro engano.

Decadente e inoportuno.

Não comprei mais sal grosso, meu quarto é hipertenso! Só queria pedir uma cerveja mais. Ver seu desenho em cada gole, num sorriso de orelha a orelha.

Acredite, não escondi – me do amor.
Ele tampouco se deu ao trabalho de pensar em mim.

Eu estive ali do lado. Sempre do lado, nunca no canto. Fui um “canto” de notas e timbres repetidos.

Estive ali do lado do céu. At heaven's great divide.

Logo onde a chuva parece não te ver.
Não consegue assustar.
Descobri que o interesse nunca é mútuo, nem tive pressa em perceber.

Agora você também começa a definhar. Há! Minha sandice não incomoda, am I right?

O som parece reduzir – se paulatinamente em compasso com a minha coragem.
Pulei dentro do tempo fechado.
Só tenho uma janela aberta, quatro ou seis paredes, como se pudesse olha – las, tenho as mesmas meias que nunca troquei. Um par de saudades. Um isqueiro e três cigarros.

Você estava até agora a pouco, meu amigo, só restou seu resto caindo e tingindo os dois lados.


Agora não tenho em quem confiar.

Se puder ainda me ouvir, peça aos meus erros um pouco de compaixão. Mas posso desistir de minhas reverências, nem deixo de sentir meu corpo fremindo.


Talvez eu nunca tenha errado.

Talvez só tenha achado cômodo me manter assim; parado e mutilado do sentir.

Talvez eu precise de um novo Erídano.

É!

Talvez seja isso.

Compaixão.

É!

Com Paixão!


2 Acenderam os faróis :

Luciano Fraga disse...

Douglas, é meu caro amigo, uma preciosidade de texto, sairá para minha alegria lá no meu espaço, abraço.

Sempre! disse...

Deslumbrada!
Em pensar que tive o privilégio de receber emails tão importantes como os teus, com palavras tão marcantes como estas!