23 de jul. de 2012

Verbo TO BE

Então eu não tomo mais banho quente...

Agora correndo ladeira pós ladeira abaixo só tenho desejos.

E medos.

E medo mesmo.

Ouço a vadia contente chorando de tesão do outro lado da parede.

Já imaginou se ali não houvesse uma parede?

-que vergonhas haveria de se mostrar?

Sou eu quem pergunta!

O medo do chuveiro elétrico em fúria e talvez o medo de me afogar, mas quem manda nos sonhos?

Não tomo mais banho quente.

E vejo sempre a torre caindo por onde e por enquanto a nuvem passa pela janela entreaberta que primeiro observo e as imagens misticamente, humanamente, se montam por trás de minhas córneas.

Hoje eu disse a ela...

Disse o que eu quero ser quando deixar de crescer

Ela não me achou idiota, mas não consegue tentar sequer me amar por trás de seus óculos feios que a tornam mais velha e menos bonita, mas seu sorriso é garoto ainda, e querendo assim mesmo ou não, me conquista outro quilo de pensamento e me emagrece as tragédias fanhas que os advogados mortos defendem na televisão quando a felicidade está no bolso.

E hoje vida minha?

E hoje?

Quem vai me emprestar algum dinheiro para que eu te faça minguar?

“um dia estaremos livres em nome de todos os que caíram!

Algum dia sua dor será sentida por todas as cabeças desse mundo e do outro, por todos os dias mais de sua vida!”

Agora é a hora da prostituta de todos os sofismas saciar sua fome.

“Amém!”

E não é a mesma!

A prostituta independe de paredes.

A vadia não!

A vadia precisa conhecer as mentiras e também as contra-mentiras.

Quão honesta és, magnífica mulher de curvas fartas e de uma curta data de validade, subproduto de nossos holerites cretinos, exalando sua halitose de cigarro e conhaque e os pés quase sempre sujos.

Vadias são bem mais caras.

Comi comida estragada!

As vísceras mortas com cebola incrustando – se nos meus dentes, a seguir arroto, e vejo o barulho da sinuca:

“foi a treze, caralho!

A treze!”

Eu não sei jogar sinuca, e rio vendo vantagem nisso.

Ainda bem que jamais me chamam, meus amigos tem vergonha de mim e das loucuras que lembram uniformes da polícia.

As mentiras são de gasolina, e eu sou o fósforo, pronto a implodir – me.

Afinal se ela não me ama que posso eu fazer?

Não estou sóbrio, nesse momento contemplo - me absolutamente imbecil enquanto pensam que eu sou o que eu não sou e novamente rio.

Me rejeito por mais cento e vinte anos ou metade disso, se tiver sorte.

Só se arrepende o solitário.

Pra minha sorte agora estou só, enquanto me imagino entre seus cabelos e um punhado de livros na estante me chamando pelo nome, e o “bitter” está cada vez mais amargo.

Tinha peixe dentro do forno e o gelo acabou!

E a vadia tem anzóis na garganta...

...e uma perfuratriz nas narinas!

Por hoje é tudo o que precisamos enterrar.

A garota que mora na minha cabeça agora me deixa dentro dos olhos, dobrado numa gaveta por baixo de traças e roupa velha.